Na semana passada, passei uma manhã na Casa Ermelinda Freitas. Sendo uma apreciadora de vinhos e de como funciona todo o processo de produção, já tinha feito algumas visitas noutras quintas e tive a oportunidade de juntar esta Casa à coleção.
No entanto, esta revelou-se não ser apenas mais uma visita. O início e o fim era na loja e, assim que cheguei, vi que as vendedoras eram mulheres e havia um grupo também de mulheres a fazer as suas compras. Quando terminou o atendimento, foi uma das vendedoras que se revelou como a minha guia e, desde logo, ficou claro o orgulho que ela tinha de trabalhar ali e de toda a história que me iria contar - quase como se pertencesse à família. Para mim, é um grande indício de que esta senhora tinha duas coisas: sente um forte compromisso para com a empresa e uma grande satisfação com o seu trabalho. Esta conjugação é rara e diz muito sobre a Casa que iria ver.
Começámos pelas vinhas, onde pude ver as várias castas organizadas por cores, regiões e países; passámos por todo o processo de produção, incluindo o engarrafamento e encaixotamento dos vários tipos de vinho. Aqui partilho uma curiosidade que fiquei a conhecer: quando se trata de um tipo de vinho cujo o objetivo é guardar durante mais tempo (um reserva, por exemplo), o encaixotamento dessas garrafas é já feito na horizontal, o que significa que o cliente nem tem de abrir a caixa, podendo apenas guardá-la diretamente como está e abrir apenas quando pretender consumir.
Dentro da fábrica, há uma sala dedicada a uma pequena exposição de cortiça, em parecia com a Amorim, e ao conjunto de prémios que já receberam, destacando este de ouro em 2008 em que ganharam à França o melhor vinho feito com a casta francesa Syrah.
No final da visita, antes de voltar à loja, a quinta conta ainda com uma exposição sobre a família Freitas e toda a evolução da empresa. Fiquei surpreendida porque o sucesso com que conta esta marca dá ideia de que já é bastante antiga, quando, na verdade, foi fundada em 1920 e apenas na década de 1990 começaram a engarrafar e a vender. Até aí vendiam a outras empresas de maior dimensão.
Nesta família, os homens tendem a durar menos tempo, pelo que contam já com quatro gerações de liderança feminina. É com a visão de Leonor Freitas que o negócio dá o salto para se tornar, ao longo dos últimos 30 anos, na marca robusta que é hoje. Embora tenha uma parte de exportação, 70% da produção é comprada e consumida a nível nacional. É quando falece o pai de Leonor que a mãe, Ermelinda Freitas, pede ajuda à filha para gerir a empresa. É aqui que se dá a grade evolução e progresso da empresa. Leonor decide investir em mais terreno, novos meios de produção, contratação de mão-de-obra com boas condições de trabalho e dá hipótese a um jovem enólogo que tinha apenas um estágio como experiência profissional, mas com ideias inovadores, para supervisionar todo o processo e revolucionar o que tinha sido feito até aí. Começam a produzir vinho em garrafa, vão ganhando expressão no mercado e competem em concursos internacionais (cujo sucesso se torna inequívoco na referida sala de exposição dos diplomas).
Ficou igualmente claro que Leonor tem uma visão progressista mas sem esquecer o passado e onde veio. Basta atentar no nome escolhido para a marca e no cuidado que tem para com a comunidade em que está inserida. No ano da pandemia, comprou toda a produção dos agricultores locais, que não tinham conseguido vender aos seus clientes habituais, e integrou-os no seu próprio stock.
A assertividade para o negócio e o respeito, e até afeto, para com as pessoas à sua volta é evidente não só na atitude da pessoa que me acompanhou como também nas caras sorridentes de todos os trabalhadores com que me cruzei, desde a fábrica ao laboratório, terminando na loja. Fez-me pensar que a liderança com empatia não é fraca. Antes pelo contrário - cria uma segurança e motivação nas pessoas que as faz querer fazer mais e com alegria, porque estimula o sentimento de pertença. É, com certeza, um caso de estudo a ser desenvolvido e adaptado, com os devidos ajustes, a outras realidades.
Deixo uma nota de agradecimento às amigas fantásticas que me ofereceram esta experiência tão enriquecedora.
Já conheciam a história? Costumam consumir estes vinhos?
Convido-vos a darem as vossas sugestões ou a entrarem em contacto comigo para dúvidas ou dicas através do Instagram @carolmapgc ou da caixa de comentários!
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